No amor, como entender? Relacionamentos Defeituosos de Ester Viola - iODona

Querida Ester,

Sou S. Uma rapariga de 24 anos muito normal, tenho uma família que me ama, poucos mas bons amigos, um emprego com contrato sem termo e até tive namorado. Eu tinha, eu deixei. Ele, 8 anos mais velho, bonito e em forma, formado em ciências e ciências motoras, ainda estuda para o mestrado e entretanto trabalha. Gentil e atencioso, sempre uma grande vontade de passar um tempo comigo, alguém que se levanta e corre para a farmácia para buscar um pacote de buscopan sem que você pergunte se está com dor de estômago, enfim, o clássico bom menino. E eu, depois de quase dois anos de relacionamento, cheguei à conclusão de que nossos caminhos deveriam se separar.

Porque mamãe sempre veio antes de mim, porque ela insistia em comprar uma casa juntos (mesmo que, quando eu dizia que não me sentia pronta, ele respondia que me esperaria), as conversas eram cada vez mais chatas , não tinha estímulos e tinha perdido a vontade de fazer qualquer coisa com ele. Já não me sentia feliz e realizada nesta relação e pela sua idade pensei que talvez não fosse o caso de lhe desperdiçar o seu tempo, que o certo era ele construir o seu futuro com alguém que estivesse disposto a partilhar uma casa, a ter filhos e constituir família. Passei os últimos dois meses reclamando de como eu estava com ele e de seus defeitos e agora que o deixei me sinto péssima, me sinto culpada por tudo e acho que fui eu que cometi um erro, que talvez eu devesse ter tido paciência, que relacionamentos maduros também são feitos de tédio e que todo mundo tem defeitos e perfeição não existe. Mas também sou da opinião que aos 24 não é certo "resolver" que se algo não der certo não dá certo, que as pessoas não mudam e eu teria me conformado com o resto minha vida com ligações da mãe dele e toda vez que ele abre a boca eu penso "mas o que ele tá falando?" .E então por quê? Por que pareço ter dúvidas? Por que eu acho que eu estava errado? Por que estou com tanta dor que parece que fui deixado?

Talvez o que eu preciso seja ouvir se fiz a escolha certa ou não.

Agradecemos antecipadamente,

S.

Apaixonado, a segunda carta

Ester, vagando pelos meandros de uma vida de ultra dez anos de casada, cito textualmente as palavras finais de um filme tosco que, porém, me arrancou mais de uma lágrima

Katie Jordan: Ainda somos nós. Somos nós com a nossa história e não é que as histórias são feitas da noite para o dia.

Quero dizer, na Mesopotâmia ou na antiga Tróia ou em algum desses lugares ali, existem cidades construídas em cima de outras cidades. Mas não quero construir outra cidade, já tenho esta cidade! Quer dizer, eu sei onde guardamos o antibiótico e sei como você está quando acorda.Eu apenas olho para qual sobrancelha você levanta. E você sabe muito bem que não quero falar de manhã e você se comporta de acordo. É uma dança que só se aperfeiçoa com o tempo. E é cansativo, muito mais cansativo do que eu esperava, mas faz mais bem do que mal.

E aí, convenhamos: todo mundo sempre vai ter alguma característica que me dá nos nervos. Então, por que não me manter com seus recursos, desculpe.

Eu também não sou moleza, mas também tenho um grande senso de dever, então no final eu me safo.

esposa do Peppe

Resposta de Ester Viola

Queridos, S. e esposa de Peppe,

Respondam uns aos outros.

Vamos começar dos anos vinte. Precede o Grande Amor - sempre - o Grande Embuste. O Grande Golpe é uma experiência formativa inalienável e fundamental.Não é tanto pegar, mas quanto tempo vai demorar para você chamá-lo pelo nome, fugir e depois seguir em direção a outros súditos melhores e mais estáveis do consórcio humano.

Apaixonada: mas depois passa?

O que mais você pode descobrir depois? Que a maior dança do amor feliz é que ele nunca passa, o maior mito do amor infeliz é que ele é eterno.

E o curso de graduação não acaba. Diante de um amor muito feliz e correspondido, o Amante ficará sabendo de outra verdade que não pediu: a adrenalina é fraca. É da natureza humana, fica chato. Levados dois indivíduos e colocados em cativeiro juntos por meses, eles farão de tudo para sair do caminho. Muito normal. Não importa o quão feliz você tenha começado, estar apaixonado - ao que parece - é inútil. A felicidade obtida não coincide com a primeira qualidade. Porque você tem que trabalhar muito pela primeira qualidade, isso não acontece e não depende.

Apaixonado: o amor é mil coisas

O abrandamento de todo amor é incurável, amém. Mas essa tragédia não é como os jovens a pintam. O amor tem formas estranhas de se construir, assume formas inesperadas, cabe na sua vida mas não no quarto que você pensou. O amor é mil coisas, inclusive odiar-se, achar-se inútil junto e desinteressado e cansado e com a impressão de ter esgotado as forças. O amor é para não partir? Pode ser.

Você percebe que é amor quando começa a se perguntar se realmente existiu mesmo em uma vida

anterior, sem uma determinada pessoa. Você não consegue mais se imaginar em outro lugar, como se

uma história idêntica não pôde ser reproduzida, apesar de não haver provas

clamorous. O tempo anterior e qualquer futuro não parecem mais inteiros.

Leia aqui todos os episódios da coluna Relacionamentos Defeituosos de Ester Viola.

Todos os amores são iguais

Não é como no começo.Quando estávamos convencidos de que um indivíduo, o escolhido (por nós), havia chegado com o propósito de agregar qualidade aos nossos dias e durar. O que f altava para nos tornar a vida perfeita ele tinha no bolso. Depois não tínhamos mais vinte anos e nos vimos melhor: ninguém muda nada a não ser nosso estado de espírito.

Imaginamos um presente tendendo ao infinito, no início.

E ao invés disso? O que eles te dão? Um Pepe. Pepe seu. Todos os amores são iguais: recomeçam, diferentes a cada ano. Trabalho de ajuste. “A simplicidade nunca é tão simples assim”, escreve Philip Roth. Onde estaria a felicidade, então? Se o amor a paixão não dura ou não chega e o amor pela reflexão sempre parece uma coisinha no meio?

Enquanto isso, precisamos mudar as perguntas, porque estamos nos fazendo de idiotas.

Essa é a melhor coisa que poderia me acontecer? Esta é a reflexão tardia por trás de cada casamento.E a vida responde: é o que você tem, o resto você decide. E você decide sabendo que mais que todo amor, para durar, quer até a indiferença, o egoísmo, que você também é feliz em outro lugar.

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